quarta-feira, 18 de junho de 2014

Playlist: Tapas na cara da sociedade

Chegar à conclusão do que realmente é um tapa na cara sociedade, numa época na qual o termo se tornou completamente banal, é tarefa difícil. Por isso, uma curadoria bem delicada foi necessária. Escolhi músicas que criticam determinado(s) comportamento(s) coletivo(s), apontam problemas ou defendem pontos de vista e, ao mesmo tempo, o fazem provocando repúdia, crítica e questionamento por parte de quem escuta. Posso não ter incluído vários clássicos que poderiam ser considerados obrigatórios numa playlist como essa, porém, a minha intenção aqui, ao contrário do que fiz em outros posts parecidos, é justamente tentar quebrar expectativas do óbvio, tornando mais pessoal o gosto musical, e, claro, mostrar conteúdo novo pra vocês.
Prevejo que o player não vai mostrar todas as 14 faixas na página do post, como o de costume, então peço que vocês abram a página da playlist em uma nova guia, ouçam as músicas lá e leiam o resto do post aqui. Peço desculpas por isso e, se alguém souber de uma alternativa de serviço que eu possa usar pra criar players de audio assim, favor me indicar com urgência.



Por que começar com uma dobradinha do Patrick Stump? Porque quis começar com o melhor. Deveria ter feito ao contrário, mas não resisti. "People Never Done a Good Thing" é uma crítica geral ao comportamento de todas as classes, de peões aos reis, como é mencionado na própria música. Um trecho em especial é o meu favorito e cita a minha classe jornalística: ""politician" is a fancy word for crook / Most journalists cook the books and fail up / And most of us do as little as we can". Como veem, um problema bem comum à nossa realidade também aparece. 
"Greed" é mais específica, mas igualmente genial. Obviamente, critica a ganância (PS: uma discussão interessantíssima sobre a diferença entre ambição e ganância foi feita no podcast Café Brasil) da sociedade de consumo e do capitalismo selvagem. Tem direito à referências ao Gordon Gekko (personagem do filme "Wall Street - Poder e Cobiça", de 1987, e "Wall Street: O dinheiro nunca dorme", de 2010) e ao Bernie Madoff (um poderosão de Wall Street que forjou diversas fraudes através de fundos de investimento e fez o HSBC e o Santander perderem, juntos, quase 4 bilhões de dólares). Ah, e graças ao segundo verso, que diz "The laissez hasn't been fair to me", descobri o que é laissez-faire: o príncípio do liberalismo econômico. Essa música é uma aula de economia!
Marina Diamandis estreia nessa playlist dando continuidade ao que o Patrick abordou na faixa anterior, apesar de "Oh No!" ser mais auto-biográfica e meta-artística, deixa claro como é mercado da arte nos Estados Unidos. Aliás, ela compôs essa faixa após uma viagem pra lá, quando o álbum "The Family Jewels" já tava praticamente pronto. É uma grande sátira ao apego à fama e ao dinheiro que as estrelas do show business têm, sendo seguida de uma exposição de como a indústria pode ser cruel com quem não gera os lucros esperados. Ao mesmo tempo, a artista marca um posicionamento ideológico em relação a tudo isso.
Mudando de ares, a canção "You Can't Win" da Kelly Clarkson não é um tapa na cara de alguma elite e sim, nas nossas. Pequenos conceitos precipitados e generalizações que acabamos por fazer sem perceber no dia-a-dia são o alvo dessa faixa. Existem duas maneiras de se identificar: você pode enxergar alguns erros que possa ter cometido, ou se sentir confortável por ter visto um empecílio ao seu bem-estar representado num dos versos.
"Sisters Are Doin' It For Themselves" deve ser uma velha conhecida de vocês. É um exemplo de feminismo bem feito, relatando o resultado de uma luta de décadas. Infelizmente, todo o trabalho que o ativismo passado teve parece não surtir efeito numa parcela enorme das mulheres. É disso que "Stupid Girls", outra que vocês conhecem, fala de um jeito super bem-humorado. E nesse clima de estrogênio no ar que a Marina retorna com "Sex Yeah", fazendo uma constatação de como o sexo feminino é visto pela sociedade contemporânea, tendo em vista o feminismo e a degradação citados nas duas faixais anteriores dessa playlist. Essa música explora a decadência da imagem da mulher ao mesmo tempo em que provoca diretamente o questionamento sobre o que aprendemos. Poderíamos desenvolver um artigo científico da minha linda área, Comunicação, a partir da primeira estrofe sobre como os meios barram a imaginação infantil devido o excesso de informações que as crianças absovem deles. Ela também tem uma música que critica o comportamento fútil das mulheres, "Girls", que não achei que deveria constar aqui.
A P!nk retorna à lista numa crise existencial expressa através de um desabafo. "Ave Mary A" retoma o individualismo criticado em outras faixas daqui e adiciona uma dose de caos, somado à violência e o excessos químicos na tentativa de evitar sofrimentos, coisa da cultura terapêutica (Tô fazendo um trabalho relacionando esse tema com o "Electra Heart", da Marina. Em breve, no Óculos e Café). A mensagem é claramente direcionada àqueles que têm poder sobre nós. Pra esses mesmos destinatários são as duas canções seguintes, mais especificamente para quem ocupa o cargo mais alto da Casa Branca. "Dear Mr. President", da P!nk, é para o Bush II, e "Dear Mr. President", do 4 Non Blondes, pro Bush I. Ambas citam os problemas sociais dos EUA e a fome de guerra desses governos, sendo que a primeira chega a mencionar os direitos dos gays e a segunda, o uso de drogas como o crack (isso no começo da década de 90!). "Carta aos Missionários", do Biquini Cavadão, continua nessa vibe, comentando a autodestruição do mundo provocada pela ganância e pela guerra.
O Adam Lambert aparece na lista com "Outlaws of Love", lembrando algo que a P!nk havia dito ao Bush: o direito dos homossexuais e os preconceitos que sofrem. É um desabafo de alguém que vive num mundo onde religiosos fanáticos pregam discursos infundados de ódio gratuito contra essa minoria. 
Pra terminar bem essa playlist super comentada, escolhi dois hits de artistas respeitados. A primeira é "They Don't Care About Us", do Michael Jackson. Essa faixa dialoga com as anteriores direcionadas ao poder. A violência aqui é a específica vinda do Estado, o racismo escondido por trás da repressão policial excessiva de alguns maus elementos da instituição. Nesse clima de revola, o Muse aparece com "Uprising", incitando uma revolução popular pela retomada do poder. Retomada porque um dos versos diz "Rise up and take the power back". Com alegorias que remetem a teorias da conspiração, "diabolizam" o sistema no qual estamos inseridos e passam uma sensação de otimismo, de que é possível mudar todas as mazelas que acompanhamos durante toda essa playlist. Confesso que sou realista e não acredito numa solução única pra tudo, no entando, a cada atitude pessoal visando a melhora, nos aproximamos de uma sociedade ideal.
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